Wednesday, March 08, 2006

Falência múltipla dos bolsos.

Post atrasado graças a um mal que acomete o Brasil: a falta de dinheiro. Problema este que, atualmente, está nos assolando mais do que o normal. Mas, como não queremos ser dignos de doações e campanhas que nos renderiam no máximo uma máquina de estampar camisetas, mudemos de assunto. Falaremos de Virena, uma pessoa normal que só quer se divertir. Seu único problema é a tendência que nutre em aderir ao voto de pobreza (não intencionalmente, mas sim forçada pela situação). Tal fato a impede de almejar e/ou alcançar a tão cara felicidade, já que, não existe uma única balada sequer em que bebidas e drogas sejam distribuídas gratuitamente.

Virena não é nenhuma Macabéa da vida. Está longe de sofrer tanto quanto a tão maltratada personagem de Clarisse Lispector, mas nem por isso sua vida é um mar de rosas. Os piercings que ostentava em diversas partes do corpo foram empenhados pra poder pagar as passagens de ônibus. Para que os buracos não fechassem, foram colocados no lugar grampos, pregos e cabos de guarda-chuvas velhos, o que causou uma grave inflamação em diversos lugares, inclusive na língua. Mas se olharmos por outro lado, isso foi até bom, porque, não podendo comer, ela tem uma desculpa muito menos trágica que a falta de condições financeiras pra justificar a fome. Muito otimista, Virena não deixa de perseguir seus sonhos. Um deles é ter uma tatuagem, e ela vai conseguir! Determinada, decidiu que será presa para que, na cadeia, consiga realizar seu sonho gratuitamente. Ela só não gosta muito da falta de opções de desenhos e de cores que terá, mas isso é o de menos quando o que está em jogo é a realização de um ideal.

Ela já tentou alguns empregos, mas desanimou ao perceber que para ter um serviço e ganhar um salário, precisaria trabalhar. Não que não tenha nascido pra isso, mas é que suas horas de ócio são sagradas e, nunca, em hipótese alguma, podem ser desrespeitas. Ela sabe que sem as mesmas não haveria ninguém pra contar as manchas e rachaduras novas causadas pelas infiltrações formadas em seu quarto, derrubando os pôsteres de suas bandas preferidas (que a essa altura, por falta de verba para o durex, são colados com cola de farinha). Por falar em materiais adesivos, Virena deu adeus ao seu ultímo prazer ao usar o resto de cola de sapateiro que ainda tinha para arrumar seu surrado e desbotado All Star branco (ao comprar, ele não era dessa cor). Agora, só resta a ela procurar no SUS um tratamento pra controlar a abstinência desse tão terrível vício.

E, assim, chegamos ao fim de mais um post, pois, depois que meu speedy foi cortado, tenho que recorrer a lan houses e meu tempo aqui ja está por findar-se. Mas fico feliz por mais uma vez ter contado a vida de mais um brasileiro comum, desses que encontramos em qualquer lugar decadente numa noite de quarta feira, afinal, levamos muita a sério essa ideia de morar em um país de terceiro mundo.