Tuesday, January 23, 2007

Um desabafo

Setembro de 1988, o pequeno Vini já tinha seus 2 anos e 7 meses, era um bebê gordo que havia sido presenteado com um irmãozinho que o tirava do posto de filho único e transferia para o de irmão mais velho. Não me lembro muito como lidei com a notícia na época, mas se isso acontecesse hoje em dia, provavelmente eu ficaria chocado ao constatar que minha mãe faz sexo.

O tempo foi passando, e como crianças saudáveis que éramos, brigávamos diariamente por todo e qualquer motivo. Por ser mais velho no começo eu levava vantagem na pancadaria, mas depois tinha que dar um jeito de convencer ele a não contar pro meu pai o que tinha acontecido, o que nem sempre era possível. Por mais que eu tentasse educá-lo sobre os males de ser um dedo-duro, ele acabava indo delatar minhas agressões . Mas eu não era tão mau assim, foi graças ao meu incentivo que meu irmão aprendeu a ler precocemente se tornando o orgulho da casa, porque se não fosse eu me gabando por entender as histórias em quadrinhos e o chamando de analfabeto o tempo todo, ele não teria a mesma motivação. Algumas vezes cheguei a ser omisso, como no dia em que ele chegou em casa carregado, aos gritos, porque tinha derrubado um peso no pé enquanto fazia capoeira, arrancando sua unha, e eu só fui ajudar meu pai e minha prima a cuidar dele depois de terminar de ver o episódio de cavaleiros do zodíaco. Pô! Essa minha falha é totalmente justificável. Ele tinha que se machucar bem na hora do meu desenho preferido?? Outras vezes posso ter dado a falsa impressão de que sua presença me incomodava, como naqueles diálogos :

ele: aee vamos sair com o pai!
Eu: ah, você vai? Então não vou.
ele: então não vou também.
Eu: ah, agora eu vou.

Hoje em dia meu irmão está com 18 anos, muito mais alto que eu, e os traços que quando crianças nos deixavam idênticos mudaram totalmente e provavelmente quem nos ver hoje em dia na rua não fala que somos irmãos, ainda mais porque se estivermos na mesma rua ao mesmo tempo vamos estar a uma distancia considerável. Enfim, sei que nunca fui um irmão muito exemplar, mas mesmo com tudo isso que acontecia nunca ficamos mais do que um dia sem nos falar, então fica difícil pra mim, estar prestes a completar 3 anos sem trocar nenhuma palavra com aquele que por mais que eu judiasse eu sempre amei e que por mais raiva que ficasse de mim, sempre relevava e tudo voltava ao normal em poucas horas. Assim, não consigo me conformar que o rumo que minha vida tomou o incomode tanto. Espero um dia conseguir falar tudo isso pessoalmente, mas fica aí o desabafo

No próximo post esse blog volta a sua programação normal.